quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Melhor dos Sentidos

Dia desses voltando de mais um dia cansativo de trabalho e universidade, me deparei com uma situação no mínimo curiosa e comecei a pensar sobre esta. O que se passava naquele ônibus não tão lotado era uma discussão aparentemente amorosa, entre um casal de mudos e talvez surdos. O casal brigou de uma forma que me pareceu agressiva, com puxões e expressões faciais bem características de quem não tá muito feliz. Ela parecia com muita raiva, ele angustiado. Palavras (gestos) de libras depois, os dois parecem ter se resolvido, o que é selado através um abraço seguido de um beijo, e que traz ao alivio a mim e a uma senhorinha que compartilhava a expectativa sobre desfecho daquela interessante epopéia. Pensei um tempo sobre isso e cheguei a algumas conclusões
Em um primeiro momento, a situação me fez pensar o quanto deve ser difícil entender e se fazer completamente entendido se se é portador de uma deficiência física, qualquer que seja. Mesmo sabendo que a libras e o braile são consideradas línguas, pensei na existência de elementos na fala (entonação e altura da voz, escolha das palavras para se expressar) que são muito valiosos para entender os sentimentos e emoções de uma pessoa, tal como os olhares e os desvios destes podem ter o seu significado. Mas logo lembrei que na falta de um dos sentidos em deficientes, se aguça todos os outros. Seria então o tato mais sensível naquele casal? Será se aqueles beijos e abraços têm mais “calor” que os de pessoas com todos os sentidos perfeitos? Disso não tenho como saber, mas isto me prendeu por um tempo.
Fato é que me toquei que existem pessoas que são como deficientes no sentido tato. Aqui não incluo aqueles com deficiência física, mas uma espécie de deficiência emocional. Pessoas que não sentem ou não transmitem nenhuma espécie de emoção através de carinhos qualquer. Pessoas que se mostram completamente indiferente a tais gestos. Não digo de beijos calorosos em qualquer lugar e a qualquer momento. Falo até de simples apertos de mão ou abraços ainda que frágeis. Um beijo na nuca, um abraço no frio até um enxugar de lágrimas que escorrem pelo rosto do outro... Se sentir falta de qualquer uma desses, agradeça todos os dias!
Pobre destes... Que são portadores da pior das deficiências.

7 comentários:

analeite disse...

Realmente.Uma das maiores deficiências se chama insensibilidade humana. Gostei muito da historinha que teus olhos conseguiram perceber.

Gabriela disse...

irmão, tu não teve deficiência nos olhos, pois viu além daquilo que estava acontecendo. tenho momentos assim de olhar algo e ir mais além!
que bom que posso vir aqui sempre.

ps.: adorei o modo como escreve, é simples e convidativa, a leitura é muuuito boa!

Além do que se vê disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Victor Lima disse...

"Um beijo na nuca, um abraço no frio até um enxugar de lágrimas que escorrem pelo rosto do outro... Se sentir falta de qualquer uma desses, agradeça todos os dias!
Pobre destes... Que são portadores da pior das deficiências."

Muito bem finalizado. Parabenizo.

Ah, e sinta-se convidado a me visitar em www.jvictorlima.com

Thais L. disse...

Não sei como estou aqui agora, exatamente. O fato é que venho sentindo falta de leitura em noites insones, como esta. Tenho muitos livros, mas queria me fazer uma surpresa.
E é certo que foi bom ler isto aqui: eu queria 'sentir'.

Esteja bem.

Anônimo disse...

O pior de tudo é que esse tipo de deficiência não vem estampada na cara, não deixa recado na sua caixa de correio avisando que está presente. Você se envolve, você dá carinho gratuito mas no seu íntimo você espera que ele seja correspondido, quando não é, só restam um nó apertado na garganta e a vontade de exigir o que tanto se quer. Você se questiona, "Será que devo?". E por mais que saiba que carinho é uma coisa que vem embutida na pessoa, você pergunta. As conversas nunca são agradáveis, são só acusações, "Você está indo rápido demais", "Esse é o meu jeito", aí no fim do dia, você volta pra casa, com o coração despedaçado e enfim se junta ao seu querido travesseiro, que já enxugou tantas lágrimas, promete que não vai mais se envolver só pra se enganar e continua a sua busca por aquela pessoa, aquela que aquece seus pés na noite gelada e te abraça apertado pra afastar a solidão.

Anônimo disse...

ah, esqueci de assinar aí em cima, Nataly Lima :)